Tropel da alma...
A dormência da alma que aquece sob o sol frio de inverno, a tranquilidade da ausência de expectativas, a serenidade matinal que acompanha as primeiras luzes da manhã e a leve aragem que arrepia a pele já sem calor. Estar vivo sem estar, escrever sem sentir, ser poeta sem alma e mártir sem causa é a dicotomia dos sentidos que não tenho.
A escuridão que me envolve, o fim desta busca constante de um sonho há longo tempo morno, esta prisão tão conhecida e familiar da qual sou prisioneira e cárcere e a tristeza… minha companheira e cúmplice de todas as horas.
Ouço um choro longínquo, um gemido surdo que me enche a garganta, o quebrar de grilhetas e a libertação súbita da alma. Reconheço o fado que me acompanhou toda a vida, o fado errante que não queria voltar a ouvir, a esperança perdida que não quero reencontrar, as expectativas que tinha olvidado para não mais recordar.
Sinto a alma a agitar, o coração a bater novamente e o corpo a aquecer, não mais sinto dormência na alma e nos sentidos, vítimas inocentes desta esperança maldita que agita e aquece. Não mais há serenidade, mas voragem, tropel e tumulto, não mais encontro a paz que a desilusão me presenteou porque sonho novamente, escrevo mais uma vez, vivo mais um dia para criar expectativas.
Seguir-se-á inevitavelmente a dor, a mágoa e a desilusão, as lágrimas já secas em fonte estéril brotarão novamente em ribeiro batido até a serenidade do frio voltar…