Ama-te...
Um dia disseram-me “Só podemos amar os outros na medida em que nos amamos a nós mesmos”. Somos seres estranhos que se devotam completamente a outra pessoa para depois passarmos a odiar o depósito do nosso amor sem vestígio do que nos uniu em primeiro lugar.
Amamos sem condição, esquecemos a nossa individualidade e perdemo-nos no processo sob pena de nunca mais nos recuperarmos completamente. Os que têm um relacionamento e mantêm a sua individualidade já estão juntos há tanto tempo que não já não amam… amigam. Porque podemos e devemos ser nós próprios com os amigos e então essa paixão forte, esse amor que nos consome, esse desejo que nos devora… passa… arrefece e esmorece. Mas se tivermos sorte, se houver respeito, se a história entre os dois for bonita… fica a amizade.
Então recuperamos a nossa individualidade, mas apenas após a paixão passar, recuperamos algo de que sentíamos falta… nós próprios, mas perdemos a fantástica sensação de sentirmos as borboletas na barriga e o coração a saltitar. Substituímos a paixão que tanta falta faz pela individualidade, porque temos que ter um ou outro e sem ambos não há alegria de viver.
Aqueles que não vivem sem paixão, aqueles cuja individualidade não chega para os preencher, passam a odiar o objecto do seu amor e partem em busca de novas paixões. Aqueles cuja individualidade os preenche ficam e amigam os que outrora amaram acomodando-se.
Todavia, o amor não é isto, somos habituados desde pequenos a admirar os casos raros e quase inexistentes de casais que se amam uma vida inteira… aqueles raros espécimes que vivem apaixonados uma vida inteira.
Se calhar então não sabemos amar, se calhar enganamo-nos chamando amor à paixão, à amizade, ao desejo, porque não nos amamos a nós mesmos, porque não nos respeitamos, porque nos esquecemos. Amor é fusão de duas almas que se entendem, falam a mesma língua e se reconhecem na sua diferença. Amar é divino, é arte e condição básica para a tão almejada felicidade.
Amem-se, apaixonem-se e respeitem-se… para amarem alguém.