Há dias assim...
Há dias assim… dias em que o tempo não passa, a vida arrasta, o ser esmorece, o vento corre sem nos tocar, as ideias encolhem, as emoções estagnam e o sol brilha sem nos aquecer. Estes são os dias cinzentos em que nos sentimos tristes, os dias em que os problemas parecem duplicar e as soluções escassear, a comida perde sabor e as flores não têm cheiro.
Nestes dias escrevo, escrevo o que me vai na alma, descrevo a tristeza que me assola, a raiva que me transforma, a frustração que me impede, o medo que me paralisa, escrevo o que estiver a sentir num ritual catártico que em mim funciona. Uma depuração da alma que me alivia e apazigua como se as emoções fluíssem de mim para o papel, tendo como portal ou veículo condutor apenas a caneta.
Este é o meu pequeno depósito de pensamentos e aqui jazem as emoções que expulsei, aqui como em qualquer guardanapo de papel, folha de rascunho, bloco, post-it e demais depósitos semelhantes que estejam “à mão” e onde escrevinho o que me vai na alma. Não sou pessoa de exprimir verbalmente o que me vai na alma, é para mim difícil dizer em voz alta o que me incomoda o espírito, é terrível para mim expressar o que me melindra, assusta, magoa ou pisa. Curiosamente, por palavras escritas sempre fui capaz de me exprimir claramente. A palavra escrita é a minha ferramenta predileta, a minha forma de comunicação de eleição e o meu material depurativo favorito.
Hoje é um dia cinzento… por nenhum motivo em especial, simplesmente porque sim, sem mais explicações, sem mais expressões ou vontades. Hoje é um daqueles dias em que amanhece cedo demais, anoitece demasiado depressa, em que as condições não são as ideais, os sorrisos amarelos, as palavras ditas sem sentimento e tudo incomoda e aborrece.
Mas dou por mim a escrever este texto e a sentir-me melhor, a pensar que não tenho motivos para estar a ter um dia cinzento, que está um lindo dia de sol, o ar enche os meus pulmões, o meu coração bate, pulsa nas minhas veias o líquido da vida e a energia mexe os meus músculos. Nenhum de nós sabe o que está destinado para nós, nenhum de nós sabe o que está ao virar da esquina e que surpresas a vida nos trará. Não é essa a maravilha da vida… não saber o amanhã? Cada segundo ser uma nova oportunidade e cada dia uma lição?
Temos obrigação de sermos felizes ou, pelo menos, tentarmos ser felizes da melhor maneira que conseguirmos. Por isso, vou abrir as cortinas ao meu dia cinzento para deixar o sol entrar e deixo aqui o conselho de uma tola… façam o mesmo.