Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Conselhos de uma Tola

Os devaneios, sonhos, rotinas e alucinações de uma mulher comum que de comum não tem nada. Não será esta a melhor descrição para qualquer mulher... mas que sei eu... sou só uma tola...

Conselhos de uma Tola

Os devaneios, sonhos, rotinas e alucinações de uma mulher comum que de comum não tem nada. Não será esta a melhor descrição para qualquer mulher... mas que sei eu... sou só uma tola...

30.10.13

Tropel da alma...

A dormência da alma que aquece sob o sol frio de inverno, a tranquilidade da ausência de expectativas, a serenidade matinal que acompanha as primeiras luzes da manhã e a leve aragem que arrepia a pele já sem calor. Estar vivo sem estar, escrever sem sentir, ser poeta sem alma e mártir sem causa é a dicotomia dos sentidos que não tenho.

A escuridão que me envolve, o fim desta busca constante de um sonho há longo tempo morno, esta prisão tão conhecida e familiar da qual sou prisioneira e cárcere e a tristeza… minha companheira e cúmplice de todas as horas.

Ouço um choro longínquo, um gemido surdo que me enche a garganta, o quebrar de grilhetas e a libertação súbita da alma. Reconheço o fado que me acompanhou toda a vida, o fado errante que não queria voltar a ouvir, a esperança perdida que não quero reencontrar, as expectativas que tinha olvidado para não mais recordar.

Sinto a alma a agitar, o coração a bater novamente e o corpo a aquecer, não mais sinto dormência na alma e nos sentidos, vítimas inocentes desta esperança maldita que agita e aquece. Não mais há serenidade, mas voragem, tropel e tumulto, não mais encontro a paz que a desilusão me presenteou porque sonho novamente, escrevo mais uma vez, vivo mais um dia para criar expectativas.

Seguir-se-á inevitavelmente a dor, a mágoa e a desilusão, as lágrimas já secas em fonte estéril brotarão novamente em ribeiro batido até a serenidade do frio voltar…

21.10.13

Correr...

A chuva cai indolente, sozinho na estrada corres, sentes o esforço dos músculos, sentes o vento a bater no rosto, sentes-te vivo. Os teus pensamentos correm contigo, os teus problemas ficam para trás… o desespero aperta o teu coração e portanto corres mais, mais rápido, com mais vigor… queres fugir, queres desparecer.

A tua respiração acelera, o teu coração bate descompassado, a tua alma tem dificuldades em acompanhar-te o passo… quanto mais ofegante ficas, mais vivo te sentes, quanto mais cansado, mais energético e é nesta dicotomia que te encontras, é nesta dicotomia que te perdes. Neste espaço, na tua solitude, quando chegas junto ao mar e na sua imensidão reconheces a tua pequenez, na sua força reflectes a tua fraqueza, na sua paz vês a tua guerra.

Cais de joelhos na areia, peito aberto e braços estendidos numa prece. O sal sacia a tua sede de sonhar, o frio aquece a tua alma que temias ter morrido, os joelhos molhados secam a tua dor, a tua cabeça lateja, mas por uma vez não por pensares demais. Por um momento, por um brevíssimo instante sentes-te livre, sentes o alívio da dor ser apenas física.

Enquanto o teu corpo dói e mói sentes-te vivo, enquanto recuperas o ritmo cardíaco estás em paz, enquanto lutas pelo fôlego sentes que não vais aninhar e morrer e ainda de joelhos como numa prece, pedes a alguém ou a algo que te salve, que te liberte, que te deixe correr não na estrada, mas na vida. Pedes e imploras que a chuva indolente, que te molha o rosto e lava as lágrimas, te retire a mácula da cobardia, te limpe o espírito do medo e te permita viver, rezas até para que este não seja o fim do teu sonho, o fim do teu desejo… suplicas por favor, por favor que a vida te dê outra oportunidade, que o destino não seja tão cruel, que o mundo seja justo.

E então, de repente, subitamente, sentes novamente o coração a apertar… e percebes que chegou a hora de começar a correr novamente…

21.10.13

O terreno e o divino...

O sonho ainda comanda a vida, mesmo confrontados com a desilusão, mesmo vendo que a vida não é garantida, mesmo depois de sabermos que tudo foi uma grande ilusão… o sonho permanece.

Quando tudo parece perdido, quando o desespero se instala, quando nada faz sentido, fica a esperança de um sonho um dia tido. No olhar, junto ao brilho da lágrima, vive a chama da fé; nos lábios, junto aos gemidos, vivem os gritos surdos da libertação; no rosto, junto ao cenho franzido da preocupação, permanecem as marcas do sorriso.

No vazio deixado por um coração partido, na escuridão em que a nossa alma se tornou, na frieza de um espírito enganado, na esterilidade de um caminho ermo a que o destino nos votou, persiste a luz que a força de viver não deixa apagar… persiste o mundo onírico que o vento nos sussurra ao ouvido, o cálice saciador da esperança e o cajado apoiante da fé.

Continuamos a creditar, continuamos a sonhar porque essa é a condição humana, porque no meio da desgraça se ouve uma gargalhada, no meio da destruição encontramos o humor, porque nos agarramos à única coisa que no homem é divino… o amor.

17.10.13

Alma livre...

Agarra-te com força à vida, luta, vive, permite-te um pouco de loucura, sonha, planeia e sorri, diz sim quando o sentires e não quando te fizer espécie, porque tudo passa tão depressa, o tempo urge e a alegria de viver é efémera e fugidia.

Gastamos energia com preocupações irrelevantes, perdemos tempo com assuntos sem interesse e, na nossa obsessão com o futuro, deixamos escapar o tão precioso presente. Somos todos espíritos livres, somos todos almas sem mestre e por isso não te deixes acorrentar a uma vida que não desejas, solta as grilhetas que te oprimem e respira… sobe ao topo do monte ou sente a areia nos teus pés descalços e respira fundo. Recorda a paisagem, sente o vento bater no teu rosto, saboreia a sensação de liberdade e sente o peso do teu peito desaparecer lentamente, porque isso é que significa estar vivo.

Somos infinitamente pequenos neste mundo e, no entanto, no teu coração pequenino cabe o mundo de alguém, não somos nada no curso da história, mas podemos fazer parte da história de muitos, não temos peso no universo, mas podemos mudar a vida de outros. Acorda, redescobre as sensações que esqueceste, coisas simples, coisas que de tão pouca importância terem são a melhor sensação do mundo.

Atreve-te, arrisca, deixa o jugo que te prende e não te esqueças que o impiedoso tempo não pára por ti nem por ninguém... viver é bom, se te permitires viver.

 

13.10.13

Fungadelas, pingadelas e cof cofs...

Pois é meus amigos, a acompanhar esta estação do ano que eu tanto gosto chegam estas coisas maravilhosas apelidadas de gripes e constipações.

Acordei para mais um glorioso dia de Outono quando o meu nariz, que não é grande nem pequenino (é ajeitadinho), dá sinais de estar entupido e a precisar de uma fungadela e pensei cá com os meus botões… “já foste”.

Estamos naquela altura do ano a que as pessoas se referem como a “queda da folha” e em que vamos assistir a um desfilar de pessoas de narizes vermelhos, olhos lacrimejantes e lenços na mão para as fungadelas e pingos… para as pingadelas portanto.

Ora, a meu ver, tudo isto não seria tão problemático se as pessoas seguissem algumas regras básicas de boa educação e bom senso. O problema é que a boa educação e o bom senso nem sempre são características que abundam nas ruas do nosso país.

Meus amigos, é urgente pôr a mãozinha à frente do nariz e da boca e desviar a cara quando cof cof e atchim. É urgente limpar o nariz em vez de andar sempre a fungar, podem facilitar um bocado em casa, mas na rua e em público fica mal. É urgente manter uma certa distância de segurança quando estamos constipados e lavar as mãozitas antes de dar um passa-bem ao colega depois de cof cof e atchim para cima delas.

Meus caros, aqui vai mais um conselho de uma tola… sigam estas regras básicas e vão ver que há menos fungadelas, pingadelas e cof cofs para toda gente e podem aproveitar melhor o maravilhoso Outono.

 

P.S.- As castanhas estão quase a chegar yupiiii :)

12.10.13

Solitude Outonal...

Abres os olhos, os primeiros raios da manhã batem no teu rosto, há uma leve mistura de nuvens e sol que anunciam um dia incerto. Olhas pela janela, o Outono exibe-se em toda a sua glória, os primeiros ventos frios arrepiam-te a pele, as folhas começam a amarelecer e dourar numa panóplia de cores quentes e alegres.

O Outono sempre foi a tua estação favorita, há algo de mágico na mistura do sol com a chuva, do quente e do frio, como se o Verão tardasse a morrer e o Inverno hesitasse em chegar, este é o meio-termo em que encontras a tua virtude, esta é a solitude em que te encontras.

Neste dia, típico de Outono, no silêncio da manhã, quebrado apenas pelos queixumes das gaivotas enquanto bebes uma chávena de chá quente na tua caneca favorita… neste momento, neste exacto momento, que para muitos seria de solidão, a vida parece perfeita. Não… neste momento, neste exacto momento, a vida é mesmo perfeita.

02.10.13

Mulher que deixou de ser menina...

Sentada, pensativa, a ver a vida passar… esta mulher que deixou de ser menina pergunta-se quando é que perdeu a inocência? Quando é que deixou de ser menina? Para onde foi o optimismo?

Observa o mundo com olhos cheios de lamento, mantém uma aparência calma, mas por dentro o coração pulsa e salta acelerado. O mundo gira sem retorno, o tempo é impiedoso e a vida jamais lhe trará a esperança que outrora foi tão inata na sua alma.

Quando era menina suspirava por ser mulher, imaginava um futuro brilhante, cheio de sucesso e o respeito que a idade traria. Agora que é mulher suspira pelo tempo em que era menina. Pelo entusiasmo com que enfrentava cada dia, sem medos e sem angústias, pela crença acérrima que tinha na bondade dos outros, pela pureza , que reconhece agora, detinha o seu espírito.

Sentada, pensativa, a ver a vida passar… esta mulher que deixou de ser menina observa o sorriso fácil das crianças, a alegria nata de quem não sabe, observa o ar agastado de quem é velho, o olhar curioso de quem é jovem, o rosto sábio de quem já viveu e o rosto expectante de quem vai viver.

Vasculha a sua alma, procura incessantemente, numa busca que não tem fim e encontra apenas o vazio lá deixado por cada mágoa, desilusão e desengano que a vida lhe atraiçoou.

Sentada, pensativa, a ver a vida passar… esta mulher que deixou de ser menina reflecte que, talvez, se a vida se apiedar dela, o vazio possa ser preenchido por recordações, a mágoa substituída por sabedoria e as desilusões e desenganos apagados pela experiência da vida.

Talvez, mas só talvez, quando esta mulher que deixou de ser menina, deixar de ser mulher para passar a ser idosa… talvez, mas só talvez reconheça o sabor da vida e se aperceba que afinal ela até é bem saborosa…