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Conselhos de uma Tola

Os devaneios, sonhos, rotinas e alucinações de uma mulher comum que de comum não tem nada. Não será esta a melhor descrição para qualquer mulher... mas que sei eu... sou só uma tola...

Conselhos de uma Tola

Os devaneios, sonhos, rotinas e alucinações de uma mulher comum que de comum não tem nada. Não será esta a melhor descrição para qualquer mulher... mas que sei eu... sou só uma tola...

29.03.18

Observadora da Humanidade...

Sou uma observadora da humanidade, nunca me senti como parte integrante. Não num sentido superior, não como sendo melhor…. Mais como estranha, deslocada, como vendo de fora algo diferente, interessante.

Vejo as pessoas a passarem pela vida como algo que não lhes pertence, como se não lhe dessem a devida importância. De vez em quando sinto tudo, todas as emoções, todos os momentos como sendo demasiado, como se explodisse em mim o sentimento. Outras vezes estou adormecida e letárgica como se anestesiada.

Observo as pessoas a almoçarem, a passearem os cães, a falarem de futebol… no seu dia-a-dia enquanto as observo descortino os seus pensamentos mais íntimos, as suas preocupações e os seus medos. Vejo estampados nos seus rostos e nos seus olhos o que a sua boca não diz e o que procuram esconder.

E questiono-me e interrogo-me se serei a única que vê tudo isto enquanto vê a vida a passar?

Assemelho-me ao tempo, ora soalheiro e cheio de calor, luz e brilho, ora enublado, húmido e frio e esta incoerência, esta instabilidade faz parte de mim e não há meio-termo. Não sei viver de outro modo e apesar da máscara calma e passiva que uso na sociedade, vive em mim esta dicotomia e contradição.

E questiono-me e interrogo-me e penso… Penso muito nesta humanidade que sinto como não minha, como estranha, como alienígena.

Sento-me e vejo a vida a acontecer, vejo a vida a passar, vejo a vida viver…

29.03.18

Homens de Soleira...

O olhar sem alma de quem perdeu a esperança, o rosto sulcado por histórias e linhas de sofrimento. Veem a vida passar sentados na soleira de uma porta qualquer enquanto chupam um cigarro moribundo.

Um dia o mundo também foi deles... Fizeram planos, tiveram sonhos e o coração pulsava forte a luz da vida. Todos os homens de soleira tiveram vidas um dia, todos viram os seus planos e esperanças escorrerem pelo ralo amargo da realidade.

São agora invisíveis... Velhos demais para trabalhar, novos demais para a reforma, a lembrança incómoda do que está errado na sociedade, a presença constante que optamos por não ver como espectros de uma realidade dúbia que se não for vista não existe.

Se olharem nos olhos de um desses homens de soleira verão que já nem tristeza existe no seu olhar. Despojados de toda a dignidade de ganha-pão que um dia tiveram, sobra apenas a carcaça inútil sem uma ocupação e o tempo que não finda jamais.

Dia após dia, as horas, os minutos e os segundos repetem-se iguais a si mesmos num incessante ciclo que só terminará com a morte que já tem a sua alma, o seu cigarro moribundo... Falta apenas a levar a carcaça.