Mulher que deixou de ser menina...
Sentada, pensativa, a ver a vida passar… esta mulher que deixou de ser menina pergunta-se quando é que perdeu a inocência? Quando é que deixou de ser menina? Para onde foi o optimismo?
Observa o mundo com olhos cheios de lamento, mantém uma aparência calma, mas por dentro o coração pulsa e salta acelerado. O mundo gira sem retorno, o tempo é impiedoso e a vida jamais lhe trará a esperança que outrora foi tão inata na sua alma.
Quando era menina suspirava por ser mulher, imaginava um futuro brilhante, cheio de sucesso e o respeito que a idade traria. Agora que é mulher suspira pelo tempo em que era menina. Pelo entusiasmo com que enfrentava cada dia, sem medos e sem angústias, pela crença acérrima que tinha na bondade dos outros, pela pureza , que reconhece agora, detinha o seu espírito.
Sentada, pensativa, a ver a vida passar… esta mulher que deixou de ser menina observa o sorriso fácil das crianças, a alegria nata de quem não sabe, observa o ar agastado de quem é velho, o olhar curioso de quem é jovem, o rosto sábio de quem já viveu e o rosto expectante de quem vai viver.
Vasculha a sua alma, procura incessantemente, numa busca que não tem fim e encontra apenas o vazio lá deixado por cada mágoa, desilusão e desengano que a vida lhe atraiçoou.
Sentada, pensativa, a ver a vida passar… esta mulher que deixou de ser menina reflecte que, talvez, se a vida se apiedar dela, o vazio possa ser preenchido por recordações, a mágoa substituída por sabedoria e as desilusões e desenganos apagados pela experiência da vida.
Talvez, mas só talvez, quando esta mulher que deixou de ser menina, deixar de ser mulher para passar a ser idosa… talvez, mas só talvez reconheça o sabor da vida e se aperceba que afinal ela até é bem saborosa…