Perder Humanidade...
Sou daquelas pobres almas que acreditava que a situação do coronavírus iria modificar profundamente o Homem e que a Humanidade se tornaria melhor. Não me considero propriamente uma optimista, mas quero sempre acreditar que a bondade humana prevalece. Julguei que perante um mal comum as pessoas se uniriam, esqueceriam as suas diferenças e lutaríamos todos contra este amigo invisível. O ser humano se tornaria mais consciente, tolerante e aprenderia a apreciar as relações interpessoais acima de tudo, se mais nada, pela dificuldade de as manter com esta distância imposta, mas necessária. Se vejo isto acontecer em alguns casos, porque vejo, é num número muito mais reduzido do que gostaria.
Esqueci-me que a Humanidade tem muitos outros inimigos invisíveis que se aliaram à Covid 19 e que juntos possuem uma força bélica poderosa. A ignorância, o medo irracional, o desrespeito e a desinformação associaram-se criando uma frente unida difícil de adentrar.
Quando postos frente a frente com a adversidade, os homens optaram por se atirarem ao pescoço uns dos outros, num derramamento de sangue que o vírus não provoca... facto este que não diminui em nada a eficácia mortal do mesmo. Lutam uns contra os outros, mais preocupados em fazer valer o seu ponto de vista do que em resolver ou minimizar a situação. Perdem tempo com desrespeito mútuo ao invés de ajudarem o próximo, acometidos de uma verdade que só para eles faz sentido. Todos, sem excepção portadores da bandeira da salvação que para os peritos é ainda desconhecida, mas que eles já tão bem conhecem nos limites da sua mente dogmática.
A prevenção, a comunicação, a verdade, o respeito e a investigação científica são e permanecem a nossa única salvação, como para tantos problemas da Humanidade. Enquanto o Homem não compreender isto, o inimigo soma e segue. Mais vidas serão ceifadas, mais problemas surgirão, maiores serão as hostilidades e lutas inglórias dos que se encontram na linha da frente sem descanso e sem previsão para tal. Mas, acima de tudo e não menos preocupante, vamos perdendo o que nos define... a nossa Humanidade.